O termo “Cirurgia Metabólica” é empregado para definir qualquer procedimento cirúrgico que leve à modificação anatômica do trato gastrointestinal, resultando em melhor controle metabólico das comorbidades agravadas pelo excesso de peso, entre elas o DM2.
A cirurgia modifica os mecanismos da fisiologia gastrointestinal envolvidos na regulação metabólica. Nesse processo estão envolvidos hormônios intestinais, ácidos biliares e microbiota intestinal, além da relação do trato gastrointestinal com os nutrientes da dieta. Como resultado ocorre aumento da secreção e da sensibilidade à insulina, aumento da saciedade e perda de peso.
As taxas de remissão do Diabetes (DM2) variam de acordo com o tipo de procedimento realizado, sendo que os melhores resultados são obtidos com cirurgias que associam redução gástrica e derivação intestinal.
Diversos estudos têm demonstrado que, num período de 1 a 5 anos de acompanhamento pós-operatório, cerca de 30 a 60% dos pacientes apresentam normalização sustentada das glicemias sem uso de medicamentos hipoglicemiantes. Porém, ao longo do tempo, cerca de 35 a 50% dos pacientes que obtiveram remissão inicial do DM2 sofrem recorrência.
Apesar da possibilidade de recorrência do DM2, grande parte dos pacientes submetidos à cirurgia apresenta melhora do controle glicêmico, o que pode se manter por um período de 5 a 15 anos.
Fatores como a duração inicial do diabetes, uso de insulina e pior controle glicêmico estão associados a menores taxas de remissão do diabetes e/ou maior risco de reincidência.
Os seguintes critérios são essenciais para a indicação do procedimento:
- Dois endocrinologistas devem atestar refratariedade ao tratamento clínico;
- Refratariedade ao tratamento clínico se caracteriza pela falta de controle metabólico, após acompanhamento regular com endocrinologista por, no mínimo, dois anos, abrangendo mudanças no estilo de vida (dieta e exercícios físicos), além do tratamento clínico com antidiabéticos orais e/ou injetáveis;
- IMC acima de 30 kg/m²;
- Menos de 10 anos de história da doença;
- Idade mínima de 30 anos (evitando o pico de incidência do diabetes autoimune do adulto, que ocorre entre 25 e 30 anos de idade) e máxima de 70 anos.
A Cirurgia Metabólica poderá ser indicada para o tratamento de pacientes que possuem Diabetes Mellitus Tipo 2 (DM2), com Índice de Massa Corporal entre 30 Kg/m² a 35 Kg/m².
Dm 2017, Conselho Federal de Medicina (CFM) publicou a resolução número 2.172/2017, que traz regras e ampliam a indicação da cirurgia metabólica para o tratamento de pacientes com diabetes.
O Diabetes Tipo 2 está diretamente associada à obesidade
“Cerca de 9% da população brasileira convive com o diabetes. São mais de 14,3 milhões de pessoas que poderão ter a cirurgia metabólica como opção terapêutica, caso o tratamento clínico não apresente resultados.”
Além do IMC e da ausência de resposta ao tratamento clínico, outros critérios para a indicação da cirurgia metabólica são a idade mínima de 30 anos e máxima de 70 anos e ter menos de dez anos de diagnóstico de diabetes.
Cirurgia Metabólica x Bariátrica
Na cirurgia metabólica ocorre o mesmo procedimento da cirurgia bariátrica. A diferença entre as duas é que a cirurgia metabólica visa o controle da doença. Já a cirurgia bariátrica tem como objetivo a perda de peso, com as metas para contenção das doenças, como o diabetes e hipertensão, em segundo plano.
De acordo com os estudos analisados, a cirurgia metabólica é segura e apresenta resultados positivos de curto, médio e longo prazos, diminuindo a mortalidade de origem cardiovascular, conforme demonstram estudos prospectivos pareados com mais de 20 anos de seguimento, séries de casos controlados, além de estudos randomizados e controlados.
Técnicas Referendadas pelo CFM
O Conselho Federal de Medicina CFM definiu que a cirurgia metabólica para pacientes com DM2 se dará, prioritariamente, por Bypass Gástrico com reconstrução em Y-de-Roux (BGYR).
Somente em casos de contraindicação ou desvantagem da BGYR, a gastrectomia vertical (GV) será a opção disponível.
Nenhuma outra técnica cirúrgica é reconhecida para o tratamento desses pacientes.
Reconhecimento da Cirurgia como Tratamento para o DM2
Em 2011, a International Federation of Diabetes (IFD) introduziu a cirurgia metabólica nos algoritmos de tratamento de Diabetes Mellitus tipo 2 como alternativa para pacientes com IMC entre 30 kg/m2 e 35 kg/m2, desde que a doença não tenha sido controlada, apesar de tratamento medicamentoso otimizado e associada a fatores de risco para doença cardiovascular.
Nos anos de 2013 e 2014, a American Society for Metabolic and Bariatric Surgery (ASMBS) e a International Federation for the Surgery of Obesity and Metabolic Disorders (IFSO), respectivamente, recomendaram a cirurgia para pacientes com diabetes, sem controle da doença após tratamento clínico e mudança no estilo de vida.
O National Institute for Health and Care Excellence (NICE) passou a recomendar, em 2014, o tratamento cirúrgico para pacientes com mesmo perfil desde que o diagnóstico da doença seja inferior a 10 anos.
Por fim, em 2016, 49 associações médicas de diferentes países revisaram as recomendações para o tratamento da diabetes e reconheceram a cirurgia metabólica como opção para o tratamento de diabetes e inadequado controle glicêmico após tratamento clínico.
Reconhecimento da Cirurgia como Tratamento para o DM2
- Paciente com Diabetes Mellitus 2 e IMC entre 30 kg/m² e 34,9 kg/m²;
- Paciente com idade entre 30 e 70 anos;
- Paciente com DM2 a menos de 10 anos;
- A indicação cirúrgica precisa ser feita por dois Endocrinologistas;
- Para indicação, é necessário um parecer que mostre que o paciente apresentou resistência ao tratamento clínico com antidiabéticos orais e/ou injetáveis, mudanças no estilo de vida e que compareceu ao endocrinologista por no mínimo dois anos;
- Paciente não pode ter contraindicações para a cirurgia.